Desde o final da década de 1970 a Filosofia com enfoque Ambiental tem contribuído com o debate da crise climática em nosso planeta. A relação das Ciências Ambientais com a Filosofia é sempre necessária. Esta relação tem discutido uma ética global alternativa para uma melhor compreensão desta crise. Ela apresenta uma Ética Ecológica que enriquece o estudo geográfico socioespacial no seu papel de contribuir com a minimização das vulnerabilidades em ecossistemas da Terra.
O comportamento humano em responder uma crise ambiental, na maioria das vezes, é mais excessivamente desagradável do que o comportamento de outros seres vivos quando, por sua vez, estão sujeitos aos eventos extremos de chuvas fortes ou ondas de calor. Essa situação está representada no negacionismo de alguns humanos que, na maioria das vezes, é para não desmoronar sua própria felicidade, mas em outras, não. Porém, neste tempo de pandemia alguns se mostraram anti-vacina, anti-ciência e se rebelam contra verdades que foram provadas empiricamente há séculos. Por outro lado, guerras culturais existem até dentro de departamentos científicos. Tão perigoso quanto os negacionistas, estão os apocalípticos, que sentem um certo grau de vitória quando presenciam eventos extremos que causam calamidades e ficam esbravejando que tinham avisado. Geralmente, esse falso ativismo ou carece de explicações, ou é deliberado por questões ideológicas. Alguns esclarecimentos podem ser encontrados nos protocolos científicos para atribuir quando um evento extremo climático está ou não associado com ações antrópicas. (Ler aqui os protocolos).
Essas temáticas são vistas, também, em livros e filmes, por exemplo, The Road, de Cormac McCarthy, e a conhecida série Mad Max, que são exemplos sobre o "nós sem mundo", mas ainda há outros exemplos para o caso de o "mundo sem nós", como explicam Débora Danowski e Viveiros de Castro em seu livro Há mundo por vir?
Possivelmente, uma Filosofia Ecológica poderia ser superficial ou profunda. O que seria pensável é como evitar armadilhas ideológicas, ou etnonacionalistas, ou discriminatórias e ir além de uma filosofia de versão americana da Natureza, sem o excesso de respeito mítico, sem elogios artificiais sobre uma geoengenharia de soluções falsas.
Estudiosos como John Muir, Arne Naess, George Sessions, Tom Regan e muitos outros da linha de pensamento Ética Ecológica explicaram a importância de apreender a realidade ao se distanciar do antropocentrismo/egocêntrismo. Eles propõem uma realização dessa apreensão com uma visão ecocêntrica, ou seja, navegar nos estágios de uma Ética Ecológica partindo de um utilitarismo ambientalista para uma ecologia mais profunda em que o humano divide o planeta com outros seres vivos dentro de ecossistemas, por exemplo, biomas, oceanos, rios, solo, atmosfera, florestas, montanhas etc.
Observam-se que existem vários ramos da Ética Ecológica, mas algumas vertentes se destacam. Por exemplo, o ambientalismo, em que são observadas pessoas que engajam em diversas frentes ativistas e, na maioria das vezes, sem o rigor de uma ética prática ou abolicionista. Elas lutam por benefícios ecológicos baseados em princípios ainda antropocêntricos. Um exemplo simples é o caso de uma pessoa que deixou de se alimentar com um determinado produto de origem animal porque pode prejudicar sua saúde. Segundo os pensamentos dos autores citados o mais próximo de uma Ética Ecológica seria se a pessoa não utilizasse tal alimento de origem animal em que este tivesse passado por sofrimentos durante o seu histórico de vida até o abate.
Por outro lado, observam-se também pessoas que se identificam com outras vertentes, por exemplo, que se enquadram no ramo de bem-estaristas, mas são como os utilitaristas, também antropocentristas. Pois parecem praticar uma ética de relação humano-animal que analisa a consequência para um ser vivo senciente, que é um animal com capacidade de sofrer ou sentir prazer ou felicidade. Muitos animais são seres sencientes. As pessoas envolvidas nesse ramo parecem apoiar a utilização de animais em experimentos sem dor, se o ato for para o bem do ser humano.
As pessoas mais identificadas com uma vertente mais abolicionista apontam para o fim das negociações sobre a utilização de animais em experimentos, mesmo sem dor. O Abolicionista que vive uma ecologia social mais profunda é contra qualquer utilitarismo. Eles lutam pela completa abolição das práticas exploratórias de outros seres vivos. Apoiam a filosofia de vida que tem como base os direitos dos animais. Inclusive, alguns, não incluem na sua dieta produto de origem animal. Não utilizam produtos que tenham sido testados em animais, por exemplo, cosméticos, medicamento, higiene e limpeza. Também não utilizam vestimentas fabricadas com animais mortos. No mundo, cresce o número de restaurantes veganos com este perfil. É um ativismo de ética prática.
Neste contexto, alguns autores destas linhas estendem suas ideias para uma visão que contemple todo o planeta, que são aproximações que podem contribuir para pensar uma Geografia Climática e Social. Por exemplo, a centrada na Terra e não antropocêntrica radical, pois os humanos são animais que vivem em ecossistemas compartilhados. Sua saúde e sua existência dependem destes compartilhamentos. A construção social e a formação da cultura em que os humanos operam são alicerçadas em suas interações dentro desses ecossistemas. Segundo Patrick Curry, no seu livro Ecological Ethics: an introduction, 2011, (veja quadro abaixo sobre sua proposta de estudo), várias éticas são apresentadas sobre integridades das espécies em seus ecossistemas como um bem para organismos humanos e não humanos. Seria desejável que não fossem considerados valores essenciais ao produtivismo com extração de recursos naturais finitos de forma predatória, ao consumismo por status quo de objetos desnecessários para a sobrevivência compartilhada e de outras falhas da convivência humana.
Figura 1 Fonte: Patrick Curry, no seu livro Ecological Ethics: an introduction, 2011. Adaptado/Montado.